domingo, 24 de outubro de 2010

Yes, We Can


- Pede pra sair!

O jargão do Capitão Nascimento deveria ser dito a todos que ainda duvidam do cinema brasileiro. Apesar de vivermos um período de muito sucesso na sétima arte tupiniquim, somos obrigados a escutar diariamente a desagradável sentença "se é nacional é ruim", uma ignorância risível para quem conhece um pouquinho do assunto.

A retomada começou em 1995, cresceu com o passar dos anos 90 e foi confirmada de 2001 para cá. Hoje, já é possível identificar produções de todos os gêneros. Essa variedade é um reflexo do desenvolvimento da indústria. Com mais pessoas trabalhando, mais projetos e ideias ganham vida. Não à toa, vimos recentemente a comédia Se Eu Fosse Você, o drama/ musical Dois Filhos de Francisco, os infantis da série Tainá, os policiais de Beto Brant, o histórico Tempos de Paz, o biográfico Chico Xavier e até a ação Federal.

Para os defensores da teoria "time bom é time campeão", alguns fatos recentes para refletir...

Cidade de Deus foi indicado a quatro Oscar em 2004: diretor (Fernando Meirelles), roteiro adaptado (Bráulio Mantovani), fotografia (César Charlone) e montagem (Daniel Rezende). No Globo de Ouro, brigou no prêmio filme estrangeiro. Mais importante ainda, inovou com uma linguagem ágil, contemporânea, copiada mundo afora. Meirelles, Mantovani, Charlone e Rezende são referências em todo o planeta.

1998 foi de Central do Brasil, que ganhou o Urso de Ouro no Festival de Berlim, o Golden Globe de produção em língua estrangeira e foi nomeado ao careca dourado na mesma categoria. De quebra, viu Fernanda Montenegro ser a melhor atriz na mostra alemã e aparecer entre as cinco primeiras nas duas premiações americanas.

Linha de Passe disputou a Palma de Ouro e fez de Sandra Corveloni a melhor atriz no Festival de Cannes em 2008.

Também em 2008, Tropa de Elite papou o Urso dourado.

É igualmente impossível ignorar O Ano em Que Meus Pais Saíram de Férias (competiu em Berlim em 2007), Abril Despedaçado (finalista nos Globos em 2002) e as indicações ao Academy Award de O Quatrilho (1995) e O Que é Isso Companheiro? (1997).

Por fim, o público aprovou o suor dos nossos cineastas. De Lisbela e o Prisioneiro a Nosso Lar, o número de bilhetes vendidos só aumentou. Tropa de Elite 2 reforça a tese. A espera pela sequência foi digna de Hollywood, com direito a ansiedade e campanha publicitária forte. Quando a película tomou as salas de exibição, converteu-se em mais um fenômeno.



Mesmo assim, ainda precisamos ouvir aquela baboseira sobre a qualidade dos nossos longas. O famoso Complexo de Vira-Lata, imortalizado por Nélson Rodrigues, permanece bem vivo. Até quando as pessoas vão torcer o nariz?

Se você não concorda com os argumentos apresentados até agora, faça outro teste.

Confira Tropa de Elite 2, produto mais recente dessa safra. Note com cuidado o trabalho minucioso feito com todo o som, mixagem e edição. Repare na fotografia e na montagem, fundamentais para contar a história de José Padilha. Depois pense se a trama deixa a desejar quando comparada a uma norte-americana ou europeia.

O cinema brasileiro renasceu há muito tempo. Só não enxerga quem não quer.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Cada vez mais forte


Poucos diretores são tão cultuados como David Fincher. Culpa de Seven e Clube da Luta. Criativos e inegavelmente impactantes, esses filmes o transformaram em um dos nomes mais promissores de Hollywood no fim da década passada.

Apesar do sucesso alcançado nos anos 90, Finch demorou para entrar no clubinho das premiações. Só em 2009 foi indicado ao Oscar pela primeira vez, com O Curioso Caso de Benjamin Button. Mesmo com uma campanha robusta da Warner, o roteiro do homem que rejuvenesce com o passar do tempo ficou pelo caminho e perdeu a corrida para Quem Quer Ser um Milionário.

Seria no mínimo irônico, para não dizer uma derrota, ver um cineasta marcado pela originalidade ganhar a Academia com uma produção repleta de fórmulas para fazer sucesso. Benjamin Button não era, definitivamente, o melhor tiro de Davey.

Duas temporadas se foram e, agora sim, o moço de Denver parece ter acertado em cheio. A Rede Social (The Social Network) é o grande destaque de 2010 até o momento. Críticos estão rendidos, público encantado e o caminho para os tapetes vermelhos já está construído.



Curioso é notar que, a princípio, a trama não tem nada demais. Trata-se da história da criação do Facebook e como isso alterou a vida de todos envolvidos naquele projeto. Para os mais exaltados, o longa tem um quê de American Graffiti e outro de Cidadão Kane, um pé na perda da inocência e outro na dificuldade ao lidar com o poder.

Segundo a Entertainment Weekly, indicações para filme, diretor, roteiro adaptado, ator e ator coadjuvante são certeza. A Focus Features ainda tenta ir mais longe: quer emplacar três nomeações a coadjuvante - em todos os tempos, isso só aconteceu com Sindicato dos Ladrões, O Poderoso Chefão e O Poderoso Chefão II.

A Rede Social se tornou, então, uma grande barbada?

Ainda é cedo para dizer. Há vida na concorrência.

Ao retratar a luta do rei George VI para superar um problema na fala e liderar o povo inglês na Segunda Guerra Mundial, The King's Speech desponta como um dos mais belos trabalhos de 2010. Já venceu o Festival de Toronto.

A popularidade ímpar de Christopher Nolan e a força de A Origem são uma ameaça constante, especialmente porque Chris foi ignorado em 2008 com o excelente O Cavaleiro das Trevas.

Clint Eastwood parece de volta aos seus melhores dias em Hereafter.

Danny Boyle gostou de ser protagonista e promete muito em 127 Horas, biografia do alpinista Aron Ralston.

E tem ainda Darren Aronofsky em Cisne Negro e os irmãos Coen (de novo!) em True Grit.

Portanto, não dá pra prever que esta é a vez de David Fincher. No entanto, ele nunca esteve tão perto da estatueta mais cobiçada do planeta.