sexta-feira, 4 de março de 2011

Mais uma lição


Confesso: quando Kathryn Bigelow anunciou o Oscar de melhor diretor para Tom Hooper, bateu uma sensação de tristeza. Nada contra o homem responsável por O Discurso do Rei nem objeção nenhuma ao longa-metragem dele. O problema era a derrota de David Fincher. Apesar dos exageros dos alternativos de plantão, Finchy é um ótimo cineasta, foi muito competente em A Rede Social e merecia aquela estatueta.

O insucesso de Fincher foi a única surpresa verdadeira preparada pela Academia. A previsibilidade desta temporada lembrou 2008, quando Quem Quer Ser um Milionário? limpou a festa sem deixar sobras pra ninguém. Azar dos interessados em uma noite de emoção. Sorte dos fiéis apostadores dos bolões - o oráculo de Ana Maria Bahiana no UOL Cinema adivinhou 20 vencedores!

Já era previsto que O Discurso do Rei ficaria com o prêmio de filme do ano e seria reconhecido entre os roteiros originais, subjugando Christopher Nolan em A Origem. O triunfo de Tom Hooper sobre David Fincher entre os diretores consolidou a vitória da produção britânica, que ainda viu Colin Firth ganhar entre os atores (com todo mérito do mundo) e, desta forma, levou a melhor nas quatro categorias de maior prestígio.

Não faço coro com a oposição a O Discurso do Rei. Pelo contrário, gostei da biografia de George VI, correta em todos os aspectos, focada em um protagonista traumatizado obrigado a superar seus problemas e com um final clássico, edificante. É um belo trabalho, a cara do Oscar. Nesse sentido, nada mais correto do que ser eleito o grande filme de 2010. Concorrentes como A Origem e Cisne Negro eram sim mais corajosos, inteligentes, desafiadores e, por que não?, geniais. No entanto, como eram cartas fora do baralho e o monarca inglês brigava contra A Rede Social, a vitória dele é aceitável.

A Rede Social merece uma análise particular. David Fincher e a Focus Features acertaram a mão, mas todo o projeto parece pequeno quando comparado aos adversários do último domingo. Se deveria ficar com uma estatueta, era roteiro adaptado (ufa!). O manuscrito, focado no diálogo, é brilhante. Quem já tentou escrever um script sabe como é duro costurar as falas. Ponto para Aaron Sorkin.



Também vale ressaltar a justa premiação de Natalie Portman, Christian Bale e Melissa Leo nas categorias de atuação. Ao lado de Colin Firth, eles fizeram um quarteto digno, de altíssimo nível. Não por acaso, ganharam tudo, dos Globos de Ouro ao Academy Award.

No fim das contas, é inevitável não pensar que a Academia poderia ser um pouco mais ousada e valorizar realizações como A Origem e Cisne Negro, enxergar nomes como Christopher Nolan e Darren Aronofsky. Entretanto, essa lição nos é ensinada anualmente e nós gostamos de ser reprovados. O Oscar é pragmático e conservador. Tudo indica que esse perfil não vai mudar. E convenhamos, ele vale muito mesmo assim, não é?