sábado, 4 de dezembro de 2010

Filme queimado


Hockenheim, 25 de julho. Felipe Massa lidera o Grande Prêmio da Alemanha de Fórmula 1. Na 49ª volta, a 18 do encerramento da corrida, a Ferrari rouba a cena. "Fernando é mais rápido que você", soa a voz no rádio. O piloto paulista é obrigado a ceder a posição para o companheiro, que ganha a prova.

Roma, 9 de outubro. Na semifinal do Campeonato Mundial de Vôlei Masculino, a arbitragem resolve aparecer. Auxiliares tomam partida da equipe da casa, o juiz de cadeira inverte pontos gritantes, a torcida pressiona... Tudo para a Itália derrotar o Brasil. Apesar da roubalheira, a Seleção faz 3 a 1 na Azzurra, chega à finalíssima, atropela Cuba e fatura o tri da competição.

Tóquio, 14 de novembro. No tie-break da final do Mundial de Vôlei Feminino, nova interferência do árbitro. Sheilla ataca com força e faz 8 a 6 para o Brasil. No entanto, o sul-coreano Kim Kun-Tae, apitador oficial, anula a comemoração verde-amarela e dá o ponto para a Rússia, que cresce, vence por 3 sets a 2 e levanta a taça. Curioso é que poucos dias antes do embate, o presidente da FIVB, a Federação Internacional, lamentava em entrevista a hegemonia brasileira na modalidade.

Zurique, 02 de dezembro. FIFA escolhe Rússia e Qatar para sediar as Copas do Mundo de 2018 e 2022, respectivamente. Mesmo com acusações de propina e venda de votos envolvendo membros do seu Comitê Executivo, responsável por escolher os países-sede do torneio, a entidade faz grande festa na Suíça para celebrar o "sucesso" de mais um pleito.

A eleição da FIFA coroa um ano marcado por polêmicas em diversas categorias esportivas. Jornais americanos e ingleses já bombardeiam notícias de supostos subornos de russos e qatarenses na votação da semana passada. Ainda não há provas, mas o retrospecto da temporada atual e as últimas manobras da turma de Joseph Blatter deixam até o mais inocente torcedor desconfiado.

É triste constatar que depois de uma belíssima Copa do Mundo na África do Sul, de um Campeonato Mundial de Basquete empolgante na Turquia e de uma temporada fantástica no tênis com direito a Federer x Nadal na grande decisão do ATP World Finals, tenhamos que passar Natal e Réveillon com um gosto amargo na boca.

O esporte é sujo. Não é novidade nenhuma dizer isso. Vamos torcer para que em 2011 as manchetes sobre títulos e disputas acirradas superem as armações e falcatruas dos cartolas.

domingo, 24 de outubro de 2010

Yes, We Can


- Pede pra sair!

O jargão do Capitão Nascimento deveria ser dito a todos que ainda duvidam do cinema brasileiro. Apesar de vivermos um período de muito sucesso na sétima arte tupiniquim, somos obrigados a escutar diariamente a desagradável sentença "se é nacional é ruim", uma ignorância risível para quem conhece um pouquinho do assunto.

A retomada começou em 1995, cresceu com o passar dos anos 90 e foi confirmada de 2001 para cá. Hoje, já é possível identificar produções de todos os gêneros. Essa variedade é um reflexo do desenvolvimento da indústria. Com mais pessoas trabalhando, mais projetos e ideias ganham vida. Não à toa, vimos recentemente a comédia Se Eu Fosse Você, o drama/ musical Dois Filhos de Francisco, os infantis da série Tainá, os policiais de Beto Brant, o histórico Tempos de Paz, o biográfico Chico Xavier e até a ação Federal.

Para os defensores da teoria "time bom é time campeão", alguns fatos recentes para refletir...

Cidade de Deus foi indicado a quatro Oscar em 2004: diretor (Fernando Meirelles), roteiro adaptado (Bráulio Mantovani), fotografia (César Charlone) e montagem (Daniel Rezende). No Globo de Ouro, brigou no prêmio filme estrangeiro. Mais importante ainda, inovou com uma linguagem ágil, contemporânea, copiada mundo afora. Meirelles, Mantovani, Charlone e Rezende são referências em todo o planeta.

1998 foi de Central do Brasil, que ganhou o Urso de Ouro no Festival de Berlim, o Golden Globe de produção em língua estrangeira e foi nomeado ao careca dourado na mesma categoria. De quebra, viu Fernanda Montenegro ser a melhor atriz na mostra alemã e aparecer entre as cinco primeiras nas duas premiações americanas.

Linha de Passe disputou a Palma de Ouro e fez de Sandra Corveloni a melhor atriz no Festival de Cannes em 2008.

Também em 2008, Tropa de Elite papou o Urso dourado.

É igualmente impossível ignorar O Ano em Que Meus Pais Saíram de Férias (competiu em Berlim em 2007), Abril Despedaçado (finalista nos Globos em 2002) e as indicações ao Academy Award de O Quatrilho (1995) e O Que é Isso Companheiro? (1997).

Por fim, o público aprovou o suor dos nossos cineastas. De Lisbela e o Prisioneiro a Nosso Lar, o número de bilhetes vendidos só aumentou. Tropa de Elite 2 reforça a tese. A espera pela sequência foi digna de Hollywood, com direito a ansiedade e campanha publicitária forte. Quando a película tomou as salas de exibição, converteu-se em mais um fenômeno.



Mesmo assim, ainda precisamos ouvir aquela baboseira sobre a qualidade dos nossos longas. O famoso Complexo de Vira-Lata, imortalizado por Nélson Rodrigues, permanece bem vivo. Até quando as pessoas vão torcer o nariz?

Se você não concorda com os argumentos apresentados até agora, faça outro teste.

Confira Tropa de Elite 2, produto mais recente dessa safra. Note com cuidado o trabalho minucioso feito com todo o som, mixagem e edição. Repare na fotografia e na montagem, fundamentais para contar a história de José Padilha. Depois pense se a trama deixa a desejar quando comparada a uma norte-americana ou europeia.

O cinema brasileiro renasceu há muito tempo. Só não enxerga quem não quer.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Cada vez mais forte


Poucos diretores são tão cultuados como David Fincher. Culpa de Seven e Clube da Luta. Criativos e inegavelmente impactantes, esses filmes o transformaram em um dos nomes mais promissores de Hollywood no fim da década passada.

Apesar do sucesso alcançado nos anos 90, Finch demorou para entrar no clubinho das premiações. Só em 2009 foi indicado ao Oscar pela primeira vez, com O Curioso Caso de Benjamin Button. Mesmo com uma campanha robusta da Warner, o roteiro do homem que rejuvenesce com o passar do tempo ficou pelo caminho e perdeu a corrida para Quem Quer Ser um Milionário.

Seria no mínimo irônico, para não dizer uma derrota, ver um cineasta marcado pela originalidade ganhar a Academia com uma produção repleta de fórmulas para fazer sucesso. Benjamin Button não era, definitivamente, o melhor tiro de Davey.

Duas temporadas se foram e, agora sim, o moço de Denver parece ter acertado em cheio. A Rede Social (The Social Network) é o grande destaque de 2010 até o momento. Críticos estão rendidos, público encantado e o caminho para os tapetes vermelhos já está construído.



Curioso é notar que, a princípio, a trama não tem nada demais. Trata-se da história da criação do Facebook e como isso alterou a vida de todos envolvidos naquele projeto. Para os mais exaltados, o longa tem um quê de American Graffiti e outro de Cidadão Kane, um pé na perda da inocência e outro na dificuldade ao lidar com o poder.

Segundo a Entertainment Weekly, indicações para filme, diretor, roteiro adaptado, ator e ator coadjuvante são certeza. A Focus Features ainda tenta ir mais longe: quer emplacar três nomeações a coadjuvante - em todos os tempos, isso só aconteceu com Sindicato dos Ladrões, O Poderoso Chefão e O Poderoso Chefão II.

A Rede Social se tornou, então, uma grande barbada?

Ainda é cedo para dizer. Há vida na concorrência.

Ao retratar a luta do rei George VI para superar um problema na fala e liderar o povo inglês na Segunda Guerra Mundial, The King's Speech desponta como um dos mais belos trabalhos de 2010. Já venceu o Festival de Toronto.

A popularidade ímpar de Christopher Nolan e a força de A Origem são uma ameaça constante, especialmente porque Chris foi ignorado em 2008 com o excelente O Cavaleiro das Trevas.

Clint Eastwood parece de volta aos seus melhores dias em Hereafter.

Danny Boyle gostou de ser protagonista e promete muito em 127 Horas, biografia do alpinista Aron Ralston.

E tem ainda Darren Aronofsky em Cisne Negro e os irmãos Coen (de novo!) em True Grit.

Portanto, não dá pra prever que esta é a vez de David Fincher. No entanto, ele nunca esteve tão perto da estatueta mais cobiçada do planeta.

sábado, 28 de agosto de 2010

Até onde ele vai?


Você deve se lembrar do final de O Cavaleiro das Trevas. O monólogo avassalador do Comissário Gordon, delicadamente coberto por imagens escolhidas a dedo, construiu uma das cenas mais marcantes do cinema nos últimos anos.

O sucesso do homem-morcego ratificou Christopher Nolan como um dos maiores diretores de Hollywood na atualidade. Méritos não faltaram para isso. Da cabeça dele saíram Amnésia, Insônia, Batman Begins, O Grande Truque e a segunda aventura do herói mascarado.

Desta forma, era natural que a expectativa para A Origem fosse das maiores. O decantado Nolan, reconhecido como um homem criativo, escreveu um roteiro original, reuniu sua competente trupe novamente (o montador Lee Smith, o fotógrafo Wally Pfister, o compositor Hanz Zimmer) e contratou um elenco de primeira.

Como poucas pessoas, Chris trabalhou bem com essa pressão e fez um filme espetacular. Não cabe aqui discutir atuações, conceitos, categorias. Basta dizer que tudo funciona à perfeição. Criatividade, delicadeza e coragem, características presentes nos trabalhos anteriores do cineasta, estão lá novamente.

Melhor ainda é notar o respeito do britânico com seu público. Cuidadoso ao extremo, ele contou sua história e deixou o melhor conosco, o gran finale. Ninguém deixa a sala de projeção sem pensar no que acabou de assistir. E mais: você pode decidir por A ou B e o sentido, o encaixe, terá o mesmo brilho.

Na publicação anterior deste blog, empreguei o termo "raio", dirigido pelo segurança Calo a Michael Corleone na Sicília em O Poderoso Chefão. É quando uma pessoa fica sem reação diante de algo bonito, grandioso (no caso, a italiana Apollonia). Na ocasião, pedi que em 2010 ele nos atingisse com mais frequência nos cinemas, porque no último biênio, quase não caiu.

Deu sorte. O primeiro raio deste ano me acertou em A Origem. Ou se me permitirem brincar uma vez mais, foi o primeiro "chute".

Ah, e que venha o terceiro capítulo de Batman.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Primeiro Chute


Em 2007, figurinhas carimbadas levaram a melhor.

Em 2008, em um dos maiores feitos dos 82 anos de história da festa, venceu um filme ''pobre", independente, rodado na Índia com equipe britânica.

No ano passado, foi a vez de uma mulher e sua análise sobre a guerra sorrirem.

Muitos podem reclamar, mas poucas premiações são tão importantes quanto o Oscar.

Os indies vão dizer que trata-se, na verdade, de uma eleição e, pior ainda, com cartas marcadas. Para eles, Cannes é mais justo. Ignoram, no entanto, que na Riviera Francesa o clubinho é muito mais restrito e, portanto, antidemocrático.

Prova maior da força dos Academy Awards é o burburinho de agosto. A seis meses da entrega da estatueta, já existem comentários sobre os possíveis concorrentes.

Me juntei ao movimento e listei abaixo os candidatos prévios. Engraçado vai ser notar em fevereiro de 2011 como essa relação pode mudar.

ANOTHER YEAR - Dirigido por Mike Leigh (Simplesmente Feliz), segue a vida de um casal de meia idade com seus amigos. É o maior candidato a dramalhão do ano, no melhor estilo As Horas. Pode arrancar indicações para filme, diretor, roteiro e atores (Jim Broadbent e Imelda Staunton).

THE FIGHTER - Pode aparecer como o bom filme do ano. Biografia do boxeador Micky Ward, é dirigido por David O. Russel, o homem por trás de Três Reis. No elenco estão Mark Wahlberg, Christian Bale e Amy Adams. A Paramount vai lançá-lo no dia 10 de dezembro, logo...

BLACK SWAN - Darren Aronofsky foi muito elogiado com Réquiem para um Sonho e quase chegou lá em 2008 com O Lutador. Agora, está fortíssimo com este Black Swan. O longa narra a rivalidade entre uma veterana dançarina de balé e sua maior concorrente. Tem Natalie Portman no comando e já faz barulho desde o ano passado. Será que vai?

NEVER LET ME GO - Pode ser o britânico de sucesso de 2010. Dirigido por Mark Romanek (ironicamente, americano de Chicago), mostra o passado e o presente de três jovens educados em um internato especial na Inglaterra. À frente do cast, Keira Knightley e Carey Mulligan. Precisa de mais alguma coisa?

THE SOCIAL NETWORK - Eu discordo, mas David Fincher ganhou muitos pontos com O Curioso Caso de Benjamin Button. Agora, o cineasta lança a história dos fundadores do Facebook e os problemas que eles enfrentaram para fazer o portal funcionar. Há uma expectativa enorme nos Estados Unidos. Para mim, nada demais.

THE TREE OF LIFE - Esse sim, parece ter sido feito para receber prêmios. Diretor renomado (Terrence Malick, de Além da Linha Vermelha), Brad Pitt e Sean Penn. O roteiro é sobre uma família que perde a inocência na década de 50. E ainda tem esse título. Não duvido dessa árvore não.

SOMEWHERE - Sophia Coppola ressurge com um drama sobre um ator "porra louca" de Hollywood que repensa sua vida ao receber a visita da filha de 11 anos. É amigo, Alemanha é Alemanha.

JACK GOES BOATING - Estreia de Phillip Seymour Hoffman na direção. A trama gira em torno da vida de dois casais trabalhadores de Nova York. Pode ser a surpresa do ano.

HEREAFTER - Clint Eastwood. Desta vez, o astro mostra três pessoas tocadas de forma diferente pela morte. Peter Morgan escreve e Matt Damon puxa a fila dos atores. Como lança um filme por ano, Clint acabou se banalizando um pouco, à lá Woody Allen. No entanto, o diretor é tão acima da média que não pode ser desprezado jamais.

YOU WILL MEET A TALL DARK STRANGER - E já que falamos de Woody Allen, aqui está ele. Desta vez, a estrela hiperativa fez uma salada com vários casais em Londres. Antonio Banderas, Josh Brolin, Anthony Hopkins, Freida Pinto e Naomi Watts estão no meio da confusão. O lançamento nos Estados Unidos será no fim de setembro, mas já existem rumores sobre uma boa campanha para a temporada das premiações.

A ORIGEM (INCEPTION) - Christopher Nolan já bateu na trave duas vezes, com Amnésia e O Cavaleiro das Trevas. Essa pode ser a vez do jovem cineasta. A ORIGEM foi elogiado mundo afora, mas pode ser moderno demais para os padrões da Academia.

TOY STORY 3 - Sucesso de público e crítica, com certeza será indicado a melhor filme de animação. Para chegar à categoria principal, vai precisar contar com uma boa campanha e com o fracasso de alguns concorrentes. Acho que chega lá.

Não custa lembrar que ainda falta muito tempo para o começo da briga. Ou seja, nada disso é certeza.

Por enquanto, a torcida é só uma: que o nível de 2010 seja superior ao de 2009 e 2008.

Citando O Poderoso Chefão, nos dois últimos anos, o raio me acertou poucas vezes.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Se merecem


Cinco estrelas no peito não foram suficientes para fazer o Brasil de Dunga jogar pra frente, encurralar os adversários, pressionar, buscar a vitória.

A tríplice coroa de Cambiasso e Zanetti na Inter de Milão não impressionou Maradona, que preteriu a dupla e até tentou jogar no ataque, mas naufragou com uma defesa risível.

À Inglaterra, faltaram criatividade e ímpeto ofensivo.

Na França, um técnico estúpido não soube montar um time e o esporte deu lugar à baderna.

Portugal mostrou o que dele se esperava: uma equipe média, na retranca, com um craque, Cristiano Ronaldo.

A Alemanha chegou a encantar, porém decidiu defender no momento decisivo e foi engolida pela Espanha.

Cada uma à sua maneira, essas seleções, sempre favoritas ao título mundial, fracassaram na África do Sul.

É triste ver a derrota alemã, já que a Mannschaft jogou bem nas goleadas sobre Inglaterra e Argentina. No entanto, na hora de confirmar sua soberania, faltou coragem, se fechou e perdeu.

A tristeza germânica, contudo, dá lugar à alegria espanhola.

Sim, a Fúria chegou. E com um futebol bonito, envolvente, repleto de posse de bola, tabelas, inversões, sempre em busca da vitória.

Sim, a Fúria chegou. E um dos maiores méritos deste selecionado é combinar sempre as ótimas opções sem perder jamais o faro de gol. Villa, Torres, Xavi, Iniesta, Fàbregas, Pedro, David Silva, Xabi Alonso... Del Bosque é perfeito ao mesclar os jogadores e manter o ritmo e a forma de jogar desta Espanha.

Sim, a Fúria chegou. E uma hora a fama de amarelona iria acabar. Com todos os méritos, La Roja está lá. Foi campeã da Euro 2008, fez 100% de aproveitamento nas eliminatórias, conteve a euforia e vai entrar em campo na final da Copa do Mundo.

Os espanhóis terão pela frente uma fortíssima Holanda, outra seleção que dá gosto. Pode não ser plástica quanto a rival de domingo, mas é objetiva demais. Todas as jogadas da Laranja Mecânica passam pelos pés dos craques Sneijder e Robben. A vontade de ganhar não é abandonada em momento algum.

Não é gostoso ver o desfecho de uma Copa sem o Brasil, mas poucas vezes isso foi tão (dolorosamente) justo. Espanha e Holanda merecem esta decisão. Venceu o bom futebol.

sábado, 26 de junho de 2010

Ah, Itália!


Parta, oh noite/ Esvaneçam, estrelas/ Ao amanhecer eu vencerei/ Vencerei!/ Vencerei!

A letra é da canção Nessun Dorma, clímax de Turadont, ópera de Giacomo Puccini, mas pode ser aplicada ao futebol italiano. Depois do título mundial em 2006, a bola jogada no país murchou. O resultado patético nesta Copa, portanto, não é novidade nenhuma.

O ciclo da tetracampeã começou há quatro anos com Roberto Donadoni. O treinador, pouco experiente, teve a missão de renovar o plantel. Levou algum sufoco, mas pôs o time na Euro 2008. Resultado: goleada para a Holanda na primeira fase, segunda posição no grupo e queda nas quartas-de-final diante a Espanha.

Depois do fracasso continental, Marcelo Lippi foi chamado para apagar o incêndio e até tentou manter o processo de mudança. No entanto, confiou nos valores de sempre: Cannavaro, Zambrotta, Grosso, Gattuso, Camoranesi e mais alguns atletas que brilharam na Alemanha, mas estão no crepúsculo de suas carreiras.

A incapacidade de rejuvenescer a seleção é diretamente ligada à falta de jogadores nascidos na Itália nos principais clubes do país. A Internazionale venceu a última Liga dos Campeões, mas só tinha quatro italianos no seu elenco principal e nenhum deles era titular (Toldo, Materazzi, Santon e Balotelli). Milan e Roma mais parecem um asilo. A Juventus revelou nos últimos anos uma nova safra, que se espalhou por clubes menores e ainda não despontou.

Com esse histórico recente, o fracasso da Azurra na África do Sul já era esperado. Os dirigentes precisam, agora, preocupar-se em arrumar a casa. Os erros servem como um guia para um futuro melhor. O Brasil passou por uma situação parecida. Foi eliminado na primeira fase da Copa de 1966 com uma equipe que misturava veteranos dos mundiais anteriores e jovens sem experiência alguma. A CBD trabalhou bem e em 1970 trouxe a Jules Rimet para a América do Sul novamente.

Como narra a composição de Puccini, a noite vai partir. A escuridão italiana vai passar e virá em seguida um novo amanhecer. Só resta saber quando.

Para os interessados, deixo abaixo a belíssima Nessun Dorma.


sábado, 19 de junho de 2010

Muita calma nessa hora

Velocidade, habilidade, toque de bola preciso e muitos gols. O melhor futebol da primeira semana da Copa do Mundo foi da Argentina. Ainda que pesem os problemas defensivos, o ataque portenho parece pronto para superar as falhas do pessoal lá de trás.

Lionel Messi, escalado na posição em que atua no Barcelona, voa em campo. Higuaín continua o mesmo: coloca a bola na rede, mas perde com freqüência um caminhão de chances. Tévez luta e colabora, Verón dita o ritmo, Mascherano morde de todos os lados. Sobra talento, mas algo ainda parece fora do lugar.

O fato é que já há alguns Mundiais o roteiro é sempre o mesmo. Os argentinos brilham na primeira fase, montam o melhor ataque da competição, ganham as manchetes. No mata-mata, porém, quando batem de frente com outra grande força, acabam eliminados. Foi assim em 2006 (Alemanha), 1998 (Holanda), 1994 (Romênia) e 1990 (Alemanha). Em 2002, pior ainda, caíram na etapa de grupos.

Há quatro anos, a Argentina era mais forte e perdeu da mesma maneira. OK, Messi não era o jogador de hoje. No entanto, a defesa era mais forte, o meio-campo combatia e criava mais (Cambiasso, Mascherano, Lucho González, Riquelme, Aimar, Maxi Rodríguez) e o ataque também era letal (Messi, Tevez, Crespo, Saviola e Palacio).

É claro que o futebol pode ser tudo, menos um esporte previsível e exato. A história ensina, mas não é regra. A lição é uma só: não ponham o carro na frente dos bois. A seleção de Maradona pode ser, sim, uma das mais fortes desta Copa. O troféu, contudo, ainda está longe de Buenos Aires.

sábado, 1 de maio de 2010

Ao ataque


Se a bola alçada na área atleticana petrifica o torcedor mineiro, o toque curto à frente da zaga santista tira o fôlego do praiano. Times de ataques talentosos e eficientes, Atlético e Santos convivem desde o começo do ano com problemas na defesa.

A partida da última quarta-feira fez valer a índole ofensiva das duas equipes. Cinco gols, chutes na trave, chances perdidas debaixo da baliza... O 3 a 2 poderia ter sido, sem exagero, um 4 a 3 ou 5 a 4.

Frios como sempre, os números finais foram bons para o Peixe. É verdade que o Galo joga por um empate na Vila Belmiro, mas o ataque dos 100 tentos, liderado por Neymar e André, não passou em branco uma vez sequer em 2010.



O atleticano há de responder que, assim como o adversário, o Carijó tem facilidade em vazar o oponente. Na atual temporada, só não gritou “gol” duas vezes em 22 compromissos.

É por tudo isso que o confronto não está definido. O embate na Vila deve ser novamente aberto, recheado de alternativas e com muita bola na rede.

Para os cornetas ou desesperançados, fica o ensinamento de Roberto Drummond:

Se houver uma camisa branca e preta pendurada no varal durante uma tempestade, o atleticano torce contra o vento.

terça-feira, 13 de abril de 2010

O saibro, finalmente


Os uniformes ganharam aquela sujeira avermelhada, as derrapagens pela quadra se tornaram freqüentes, o jogo ficou menos veloz e mais bonito. Começou a temporada do saibro da ATP, a mais aberta dos últimos anos.

A culpa é de Rafael Nadal. A partir do título em Sopot em agosto de 2004, o espanhol construiu uma das maiores hegemonias da história sobre a terra batida. Conquistou 25 torneios nesta superfície e foi tetracampeão em Roland Garros – perdeu pela primeira vez na Phillip Chartrier em 2009, machucado.

O que aconteceu de Paris para cá não é novidade para o fã do tênis. Rafa acumulou uma série de problemas físicos e até hoje não voltou ao nível que o levou à liderança do ranking mundial. O Touro já melhorou muito, mas a instabilidade fez os adversários perderem o medo do garoto de Manacor.

Com o enfraquecimento do bicho-papão, a concorrência ganhou espaço. Roger Federer aproveitou o fato e ergueu o último Aberto da França. Agora, virá com força total, sem pressão, em busca do bicampeonato.

Novak Djokovic, Juan Martin Del Potro, Nikolay Davydenko e Robin Sonderling sabem bem como jogar no saibro. O sérvio e o sueco se mostraram motivados para as próximas competições. O russo e o argentino se recuperam de lesões, mas devem estar 100% para o Grand Slam francês.

Desta forma, nos próximos três meses teremos pelo menos seis nomes em boas condições de disputar os troféus da quadra lenta. A corrida começou nessa semana em Monte Carlo. Quem vai levar a melhor?

Minha aposta é simples e ortodoxa: o bicho-papão vai voltar a engolir quem aparecer em seu caminho.