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- Pede pra sair!
O jargão do Capitão Nascimento deveria ser dito a todos que ainda duvidam do cinema brasileiro. Apesar de vivermos um período de muito sucesso na sétima arte tupiniquim, somos obrigados a escutar diariamente a desagradável sentença "se é nacional é ruim", uma ignorância risível para quem conhece um pouquinho do assunto.
A retomada começou em 1995, cresceu com o passar dos anos 90 e foi confirmada de 2001 para cá. Hoje, já é possível identificar produções de todos os gêneros. Essa variedade é um reflexo do desenvolvimento da indústria. Com mais pessoas trabalhando, mais projetos e ideias ganham vida. Não à toa, vimos recentemente a comédia Se Eu Fosse Você, o drama/ musical Dois Filhos de Francisco, os infantis da série Tainá, os policiais de Beto Brant, o histórico Tempos de Paz, o biográfico Chico Xavier e até a ação Federal.
Para os defensores da teoria "time bom é time campeão", alguns fatos recentes para refletir...
Cidade de Deus foi indicado a quatro Oscar em 2004: diretor (Fernando Meirelles), roteiro adaptado (Bráulio Mantovani), fotografia (César Charlone) e montagem (Daniel Rezende). No Globo de Ouro, brigou no prêmio filme estrangeiro. Mais importante ainda, inovou com uma linguagem ágil, contemporânea, copiada mundo afora. Meirelles, Mantovani, Charlone e Rezende são referências em todo o planeta.
1998 foi de Central do Brasil, que ganhou o Urso de Ouro no Festival de Berlim, o Golden Globe de produção em língua estrangeira e foi nomeado ao careca dourado na mesma categoria. De quebra, viu Fernanda Montenegro ser a melhor atriz na mostra alemã e aparecer entre as cinco primeiras nas duas premiações americanas.
Linha de Passe disputou a Palma de Ouro e fez de Sandra Corveloni a melhor atriz no Festival de Cannes em 2008.
Também em 2008, Tropa de Elite papou o Urso dourado.
É igualmente impossível ignorar O Ano em Que Meus Pais Saíram de Férias (competiu em Berlim em 2007), Abril Despedaçado (finalista nos Globos em 2002) e as indicações ao Academy Award de O Quatrilho (1995) e O Que é Isso Companheiro? (1997).
Por fim, o público aprovou o suor dos nossos cineastas. De Lisbela e o Prisioneiro a Nosso Lar, o número de bilhetes vendidos só aumentou. Tropa de Elite 2 reforça a tese. A espera pela sequência foi digna de Hollywood, com direito a ansiedade e campanha publicitária forte. Quando a película tomou as salas de exibição, converteu-se em mais um fenômeno.
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Mesmo assim, ainda precisamos ouvir aquela baboseira sobre a qualidade dos nossos longas. O famoso Complexo de Vira-Lata, imortalizado por Nélson Rodrigues, permanece bem vivo. Até quando as pessoas vão torcer o nariz?
Se você não concorda com os argumentos apresentados até agora, faça outro teste.
Confira Tropa de Elite 2, produto mais recente dessa safra. Note com cuidado o trabalho minucioso feito com todo o som, mixagem e edição. Repare na fotografia e na montagem, fundamentais para contar a história de José Padilha. Depois pense se a trama deixa a desejar quando comparada a uma norte-americana ou europeia.
O cinema brasileiro renasceu há muito tempo. Só não enxerga quem não quer.