sábado, 1 de maio de 2010

Ao ataque


Se a bola alçada na área atleticana petrifica o torcedor mineiro, o toque curto à frente da zaga santista tira o fôlego do praiano. Times de ataques talentosos e eficientes, Atlético e Santos convivem desde o começo do ano com problemas na defesa.

A partida da última quarta-feira fez valer a índole ofensiva das duas equipes. Cinco gols, chutes na trave, chances perdidas debaixo da baliza... O 3 a 2 poderia ter sido, sem exagero, um 4 a 3 ou 5 a 4.

Frios como sempre, os números finais foram bons para o Peixe. É verdade que o Galo joga por um empate na Vila Belmiro, mas o ataque dos 100 tentos, liderado por Neymar e André, não passou em branco uma vez sequer em 2010.



O atleticano há de responder que, assim como o adversário, o Carijó tem facilidade em vazar o oponente. Na atual temporada, só não gritou “gol” duas vezes em 22 compromissos.

É por tudo isso que o confronto não está definido. O embate na Vila deve ser novamente aberto, recheado de alternativas e com muita bola na rede.

Para os cornetas ou desesperançados, fica o ensinamento de Roberto Drummond:

Se houver uma camisa branca e preta pendurada no varal durante uma tempestade, o atleticano torce contra o vento.

terça-feira, 13 de abril de 2010

O saibro, finalmente


Os uniformes ganharam aquela sujeira avermelhada, as derrapagens pela quadra se tornaram freqüentes, o jogo ficou menos veloz e mais bonito. Começou a temporada do saibro da ATP, a mais aberta dos últimos anos.

A culpa é de Rafael Nadal. A partir do título em Sopot em agosto de 2004, o espanhol construiu uma das maiores hegemonias da história sobre a terra batida. Conquistou 25 torneios nesta superfície e foi tetracampeão em Roland Garros – perdeu pela primeira vez na Phillip Chartrier em 2009, machucado.

O que aconteceu de Paris para cá não é novidade para o fã do tênis. Rafa acumulou uma série de problemas físicos e até hoje não voltou ao nível que o levou à liderança do ranking mundial. O Touro já melhorou muito, mas a instabilidade fez os adversários perderem o medo do garoto de Manacor.

Com o enfraquecimento do bicho-papão, a concorrência ganhou espaço. Roger Federer aproveitou o fato e ergueu o último Aberto da França. Agora, virá com força total, sem pressão, em busca do bicampeonato.

Novak Djokovic, Juan Martin Del Potro, Nikolay Davydenko e Robin Sonderling sabem bem como jogar no saibro. O sérvio e o sueco se mostraram motivados para as próximas competições. O russo e o argentino se recuperam de lesões, mas devem estar 100% para o Grand Slam francês.

Desta forma, nos próximos três meses teremos pelo menos seis nomes em boas condições de disputar os troféus da quadra lenta. A corrida começou nessa semana em Monte Carlo. Quem vai levar a melhor?

Minha aposta é simples e ortodoxa: o bicho-papão vai voltar a engolir quem aparecer em seu caminho.

sábado, 27 de março de 2010

The Pacific e o sucesso da Segunda Guerra


É preciso combinar sensibilidade, bons personagens e muito realismo para pintar um belo retrato de um conflito. Em se tratando da Segunda Guerra Mundial, Steven Spielberg sabe bem como extrair essa lição. A filmografia dele prova a tese.

De maneiras diferentes, mas sempre combinando os três elementos citados no primeiro parágrafo, A Lista de Schindler e O Resgate do Soldado Ryan emocionam e foram justamente premiados.

No entanto, o maior mérito do diretor nesse gênero até hoje é Band of Brothers, série que ele produziu ao lado de Tom Hanks. Os dez episódios sobre a campanha da Easy Company na WW II têm combatentes marcantes e abusam da delicadeza e do cuidado na direção e no roteiro.



2010 pode significar uma mudança, ou acréscimo, nessa ordem. Já em exibição nos Estados Unidos, The Pacific repete a fórmula e já faz sucesso por lá. Desta vez, os cineastas mergulham no Teatro do Pacífico, no embate entre americanos e japoneses (1941-1945). Os capítulos já mostrados são impecáveis e comoventes.

Há uma diferença fundamental entre Band of Brothers e The Pacific, ainda que ambas se baseiem em fatos e pessoas reais.

A primeira série mostra a união entre os membros de uma mesma companhia, que se tornaram tão próximos ao ponto de serem chamados irmãos.

Na segunda não há esse tipo de ligação. Os três protagonistas não são amigos, mas lutam próximos uns aos outros. Existem apenas o coleguismo e a briga pela sobrevivência.

O mais brilhante é constatar que, mesmo desiguais, as duas mini-séries chegam a uma semelhante conclusão: não existem bons ou maus em uma guerra.

A mensagem que Steven e Tom querem nos passar é que, embora envoltos em rixas criadas pelos mais diversos motivos, somos todos iguais. E isso eles conseguem com perfeição.

quarta-feira, 10 de março de 2010

Saldo Positivo


Deu mesmo Guerra ao Terror sobre Avatar no Oscar 2009. Difícil precisar o significado desta escolha.

Para alguns, um verdadeiro tiro no pé da Academia, que ignorou o maior sucesso cinematográfico já visto, um projeto revolucionário e ousado.

Para outros, o triunfo máximo da sétima arte: até mesmo uma produção menor, de baixo orçamento e pequeno retorno financeiro pode ser eleita a melhor.

Poucas vezes na história recente houve tamanha competição e repercussão na entrega dos Academy Awards. Sinal de alto nível. Guerra ao Terror e Avatar (e também Amor Sem Escalas, Distrito 9, Bastardos Inglórios e Up) fizeram bonito no ano que passou.

Seja você um defensor dos Na’Vi ou dos soldados americanos no Iraque, tenha uma certeza: ganhou o bom cinema.

E Kathryn Bigelow como melhor diretora, a primeira em todos os tempos, só coroa a temporada que acaba agora.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Quando tudo pode mudar

Falta pouco mais de uma semana para 2009 ficar marcado como uma das maiores quebras de paradigma da história do Oscar. Em exatos nove dias a Academia deve aclamar Guerra ao Terror como o melhor filme do ano passado, apagando uma escrita de 81 anos.



É marcante a característica da AMPAS em dar seu prêmio máximo à produção de maior impacto ou relevância da temporada. Muitas vezes, o vencedor é um longa-metragem de muita fama, mas não o melhor. Sucessos de crítica coroados por revoluções tecnológicas, grandes estrelas ou estrondos sucessos de bilheteria sempre batem projetos menores, mas de resultado melhor, dramaticamente dizendo. É o triunfo da indústria cinematográfica.

Isso ajuda a explicar a vitória de Como Era Verde o Meu Valeu sobre Cidadão Kane em 1941...

My Fair Lady derrotar Dr. Fantástico em 1964...

Rocky derrubar Taxi Driver em 1976...

Dança com Lobos passar por cima de O Poderoso Chefão III e Os Bons Companheiros em 1990...

Ou ainda Gladiador ser o número 1 em 2000 em detrimento a Traffic e O Tigre e o Dragão.

Guerra ao Terror promete mandar pelos ares essa tendência. Favoritíssimo no dia 7 de março, o pequeno filme de Kathryn Bigelow foi pouco visto nos cinemas, tem fraco apelo popular e arrecadou apenas U$ 18 milhões mundo afora. É, claro, um sucesso maiúsculo de crítica, mas isso não esconde o gigantesco contraste com Avatar.



O sonho que James Cameron levou 12 anos para levar às telonas já ganhou U$ 2,46 bilhões de dólares em todo o planeta. É, de longe, a maior bilheteria de todos os tempos. Não teve notas tão altas como o concorrente, porém foi muito bem, aplaudido onde foi exibido.

Qualquer cidadão em sã consciência afirmaria que a vitória maior seria dos pandorianos, contudo a campanha de GT praticamente enterrou essa hipótese. O trabalho de Kathryn venceu quase tudo:

- Producers Guild of America

- Writers Guild of America

- Directors Guild of America

- BAFTA e vários prêmios de círculos de críticos

Só perdeu o Globo de Ouro para Jim Cameron, mas a essa altura a derrota parece irrelevante. Um gol de honra.

Desprezar a força da Avatar, baseada especialmente na teoria deste breve texto, é uma ignorância que não quero praticar. No entanto, parece igualmente ignorante negar que 2009 será de Guerra ao Terror, apesar dos Na’Vi e de Pandora.